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Acordo inconsciente. Um silvar de água a correr pelos canos entra-me na cabeça. Com os olhos ainda fechados, tento descortinar de onde vem. Um autoclismo a encher, uma torneira aberta por trás da parede. O som acorda uma dor de cabeça. Cerro o sobrolho. Hesito em abrir os olhos. Por entre as pálpebras percebo que… ler mais
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Ao direito à indignação tem que vir acoplado o dever da ação. É isto. Simples. Mas vamos por partes. Temos o direito à indignação. Certo. Exigimos, lutamos pelo dito. Com que direito? Com o direito de lutar pela nossa existência, pelas nossas exigências, pelos nossos direitos. Temos o direito de lutar pelos direitos. Se parece… ler mais
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Queria contar-te uma história. Não se passou comigo, mas aconteceu. Digo isto para que percebas que não é uma confissão ou um diário. Aconteceu mesmo, mas não comigo. Aconteceu há uma semana. Ou foi um mês, ou um ano. Não interessa, aconteceu no passado, por isso te conto. Podia contar-te sobre o futuro, mas isso… ler mais
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(ou prefácio ao Livro dos Prefácios) Nunca li prefácios. Raramente, vá. Sempre me irritaram. O prefácio fica entre a nossa intenção de ler o livro e o livro em si. Se é escrito pelo próprio, é inadmissível. Quer explicar-se? Ou explicar-nos ao que vem? Quer desculpar-se? Ou subir ao púlpito para apresentar a obra? Se… ler mais
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Fui ver. Era a Liberdade. Queria sair. Queria ser. Fazia barulho.Chamava.Gritava.Esperneava. Queria ser livre.Livrar-se das amarras.Libertar-se dos grilhões. Li ber da de Veio com vontade.Porque já tem idade.Não quer ficar presa.Não quer ser presa.Tá tudo na mesa. Mesma.Lesma. PS: deviamos pensar na dita recorrentemente, mas por altura do 25 de Abril, é impossível, escapar-lhe. ler mais
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Rasgo o rascunho que contem a verdade que nao consigo encarar.O rascunho ficou depedaçado com a verdade que dilacerava a realidade. Num rasgo, desfaço o edificio do meu ser.Parto-lhe as pernas. Num movimento circular, varro os alicerces, para que caia. Parti, e cais.Cais, verbo. Se fosse substantivo seria um cais de partida. Foste, fui. O oceano… ler mais
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Empático introvertido O que quer estar no seu canto. Mas sabe que os outros não. Vive entre o conforto do seu canto e o desconforto que os outros o vejam como isolado. Solitário não, palavra. Deixem-me estar. No meu lugar. No meu canto. Deixem-me. Solidão é uma forma de liberdade. Independência. Precisar dos outros uma forma de… ler mais
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Podes amar o outro. Podes odiar o outro. O que não podes é querer mudá-lo. Podes. Mas espera-te o confronto e a frustração. O outro é outro porque não somos nós. Só nos podemos mudar a nós. E ninguém nos pode mudar senão nós. Esta ideia pode parecer limitadora. Afinal gostávamos tanto de mudar o… ler mais
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falas falas falas falas falas falas falas falas falas falas falas falas falas falas falas Às vezes pergunto-me quando respiras, se respiras. De onde vem tanta palavra, tando som, tanta verborreia. De onde vem essa necessidade de evacuar tantas palavras. Foi um alarme de evacuação? Foi um despejo compulsivo? Ou um desejo reprimido? Onde acumulaste… ler mais
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O que precisas para meditar? O que precisas para escrever? O que precisas para correr? O que precisas para amar? Nada. Pouco ou nada precisas para viver. Não somos as coisas. Não somos as férias. Não somos nada que se compre. Não somos o trabalho, o titulo, a organização. Não somos a casa. Não somos… ler mais